África: Angola deve diversificar
parceiros de cooperação - investigadora angolana
Número de Documento: 8323865
Lisboa, Portugal 14/05/2008 07:15 (LUSA)
Temas: cooperação económica, Política, Diplomacia
Lisboa, Portugal 14/05/2008 07:15 (LUSA)
Temas: cooperação económica, Política, Diplomacia
Lisboa,
14 Mai (Lusa ) - Angola deve diversificar os
parceiros de cooperação, designadamente a China, que não impõe condições
políticas nem tomada de medidas económicas, defende Dilma Esteves em
"Relações de Cooperação China-África: O Caso de Angola", livro que é
lançado hoje em Lisboa.
A obra, da responsabilidade da Editora Almedina e que será apresentada pelo general Loureiro dos Santos, reproduz a tese de mestrado da autora, angolana de nascimento e que estudou no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).
"O que me levou a publicar a tese é a actualidade do tema. E porque tinha plena consciência da funcionalidade que ele poderia vir a ter", disse à Lusa.
Dividida em cinco capítulos, a obra deseja contribuir para a reflexão sobre o paradigma das relações de cooperação Sul-Sul na conquista do desenvolvimento.
"A Cooperação China-África assume duas modalidades: uma multilateral, que abrange o conjunto dos países envolvidos nos Foros de Cooperação, e uma bilateral, que concerne ao relacionamento que a China desenvolve com cada um deles", escreve a autora.
Sobre a cooperação bilateral, Dilma Esteves destaca as relações entre a China e Angola, e o ponto de partida "incide na política externa chinesa e a sua projecção de poder em África, uma vez que o país asiático assume-se como principal agente de intervenção numa cooperação que se quer mutuamente benéfica".
Questionada se a China pode substituir, em Angola, e com eficácia, outros parceiros de desenvolvimento, Dilma Esteves acentua a necessidade de Angola diversificar as relações de cooperação.
"Angola tem a possibilidade de escolher o melhor parceiro ou aquele que melhor serve os seus intentos. O que defendo não é a exclusividade para nenhum parceiro mas sim a multiplicidade e o desenvolvimento das relações com todos aqueles que estiverem interessadosem colaborar com Angola ",
defendeu.
Dadas as abundantes reservas de recursos naturais de Angola, Dilma Esteves reconhece haver aqui uma "conjugação de interesses".
"Há aqui uma conjugação de interesses mas não só. Não se resume ao que um pode oferecer ao outro nem a um mero relacionamento baseado no interesse. Defendo que os interesses vão muito mais para além dos recursos naturais, que é o que normalmente toda a gente defende que está na base do relacionamento da cooperação entre a China e Angola", disse.
"A política externa da China é baseada nos cinco princípios de coexistência pacífica, na qual uma das regras é justamente a da não interferência nos assuntos internos de cada Estado. Para além disso, a principal diferença do discurso chinês para o discurso ocidental é precisamente essa. A China não impõe nenhum condicionalismo político ou tomada de medidas económicas", acrescentou.
Dilma Esteves considera que tanto Angola como outros Estados africanos "estão bem conscientes dos prós e contras desta cooperação" e, portanto, sabem bem avaliar por si mesmos os benefícios ou não de uma cooperação com a China.
O desenvolvimento e crescimento da China são um dado adquirido e Dilma Esteves prevê que aquele país possa vir a substituir, por exemplo, os Estados Unidos, como potência global.
"Pode ultrapassar sem dúvida no futuro mas eu penso que, principalmente, a mensagem que a China quer deixar é efectivamente o seu crescimento pacífico", salientou.
"Se realmente conseguir ultrapassar (os Estados Unidos) será muito bom, porque - e é uma das coisas que eu também defendo no livro - é que o objectivo da China não é declarar nenhuma guerra, guerra económica neste sentido, mas é óbvio que quer ser capaz de suplantar as outras potências mundiais", adiantou.
Dilma Esteves defendeu, por outro lado, que o seu livro "não é apenas sobre a China mas também sobre o que os africanos têm a ganhar na cooperação com a China".
"Porque há sempre uma tendência unilateral de observação destes fenómenos de cooperação China-África. E é precisamente tudo isso que eu tento desmontar no livro", explicou.
A entrada da China em África, particularmente em Angola, contribui para que se multipliquem as iniciativas de cooperação.
"Assim como Angola tem uma multiplicidade de opções, ou pelo menos vão-se multiplicando as iniciativas de cooperação ou de investimento e de aquisição de créditos, os países africanos não ficam dependentes do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, porque há outra instituição capaz de as substituir", defendeu.
"E tudo isso será, numa lógica de concorrência, benéfico para África. Os africanos têm consciência disso", concluiu.
EL.
Lusa/Fim
A obra, da responsabilidade da Editora Almedina e que será apresentada pelo general Loureiro dos Santos, reproduz a tese de mestrado da autora, angolana de nascimento e que estudou no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).
"O que me levou a publicar a tese é a actualidade do tema. E porque tinha plena consciência da funcionalidade que ele poderia vir a ter", disse à Lusa.
Dividida em cinco capítulos, a obra deseja contribuir para a reflexão sobre o paradigma das relações de cooperação Sul-Sul na conquista do desenvolvimento.
"A Cooperação China-África assume duas modalidades: uma multilateral, que abrange o conjunto dos países envolvidos nos Foros de Cooperação, e uma bilateral, que concerne ao relacionamento que a China desenvolve com cada um deles", escreve a autora.
Sobre a cooperação bilateral, Dilma Esteves destaca as relações entre a China e Angola, e o ponto de partida "incide na política externa chinesa e a sua projecção de poder em África, uma vez que o país asiático assume-se como principal agente de intervenção numa cooperação que se quer mutuamente benéfica".
Questionada se a China pode substituir, em Angola, e com eficácia, outros parceiros de desenvolvimento, Dilma Esteves acentua a necessidade de Angola diversificar as relações de cooperação.
"Angola tem a possibilidade de escolher o melhor parceiro ou aquele que melhor serve os seus intentos. O que defendo não é a exclusividade para nenhum parceiro mas sim a multiplicidade e o desenvolvimento das relações com todos aqueles que estiverem interessados
Dadas as abundantes reservas de recursos naturais de Angola, Dilma Esteves reconhece haver aqui uma "conjugação de interesses".
"Há aqui uma conjugação de interesses mas não só. Não se resume ao que um pode oferecer ao outro nem a um mero relacionamento baseado no interesse. Defendo que os interesses vão muito mais para além dos recursos naturais, que é o que normalmente toda a gente defende que está na base do relacionamento da cooperação entre a China e Angola", disse.
"A política externa da China é baseada nos cinco princípios de coexistência pacífica, na qual uma das regras é justamente a da não interferência nos assuntos internos de cada Estado. Para além disso, a principal diferença do discurso chinês para o discurso ocidental é precisamente essa. A China não impõe nenhum condicionalismo político ou tomada de medidas económicas", acrescentou.
Dilma Esteves considera que tanto Angola como outros Estados africanos "estão bem conscientes dos prós e contras desta cooperação" e, portanto, sabem bem avaliar por si mesmos os benefícios ou não de uma cooperação com a China.
O desenvolvimento e crescimento da China são um dado adquirido e Dilma Esteves prevê que aquele país possa vir a substituir, por exemplo, os Estados Unidos, como potência global.
"Pode ultrapassar sem dúvida no futuro mas eu penso que, principalmente, a mensagem que a China quer deixar é efectivamente o seu crescimento pacífico", salientou.
"Se realmente conseguir ultrapassar (os Estados Unidos) será muito bom, porque - e é uma das coisas que eu também defendo no livro - é que o objectivo da China não é declarar nenhuma guerra, guerra económica neste sentido, mas é óbvio que quer ser capaz de suplantar as outras potências mundiais", adiantou.
Dilma Esteves defendeu, por outro lado, que o seu livro "não é apenas sobre a China mas também sobre o que os africanos têm a ganhar na cooperação com a China".
"Porque há sempre uma tendência unilateral de observação destes fenómenos de cooperação China-África. E é precisamente tudo isso que eu tento desmontar no livro", explicou.
A entrada da China em África, particularmente em Angola, contribui para que se multipliquem as iniciativas de cooperação.
"Assim como Angola tem uma multiplicidade de opções, ou pelo menos vão-se multiplicando as iniciativas de cooperação ou de investimento e de aquisição de créditos, os países africanos não ficam dependentes do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, porque há outra instituição capaz de as substituir", defendeu.
"E tudo isso será, numa lógica de concorrência, benéfico para África. Os africanos têm consciência disso", concluiu.
EL.
Lusa/Fim