27/02/2012





África: Angola deve diversificar parceiros de cooperação - investigadora angolana

Número de Documento: 8323865
Lisboa, Portugal 14/05/2008 07:15 (LUSA)
Temas: cooperação económica, Política, Diplomacia

   Lisboa, 14 Mai (Lusa) - Angola deve diversificar os parceiros de cooperação, designadamente a China, que não impõe condições políticas nem tomada de medidas económicas, defende Dilma Esteves em "Relações de Cooperação China-África: O Caso de Angola", livro que é lançado hoje em Lisboa.

    A obra, da responsabilidade da Editora Almedina e que será apresentada pelo general Loureiro dos Santos, reproduz a tese de mestrado da autora, angolana de nascimento e que estudou no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).

    "O que me levou a publicar a tese é a actualidade do tema. E porque tinha plena consciência da funcionalidade que ele poderia vir a ter", disse à Lusa.

    Dividida em cinco capítulos, a obra deseja contribuir para a reflexão sobre o paradigma das relações de cooperação Sul-Sul na conquista do desenvolvimento.

    "A Cooperação China-África assume duas modalidades: uma multilateral, que abrange o conjunto dos países envolvidos nos Foros de Cooperação, e uma bilateral, que concerne ao relacionamento que a China desenvolve com cada um deles", escreve a autora.

    Sobre a cooperação bilateral, Dilma Esteves destaca as relações entre a China e Angola, e o ponto de partida "incide na política externa chinesa e a sua projecção de poder em África, uma vez que o país asiático assume-se como principal agente de intervenção numa cooperação que se quer mutuamente benéfica".

    Questionada se a China pode substituir, em Angola, e com eficácia, outros parceiros de desenvolvimento, Dilma Esteves acentua a necessidade de Angola diversificar as relações de cooperação.

    "Angola tem a possibilidade de escolher o melhor parceiro ou aquele que melhor serve os seus intentos. O que defendo não é a exclusividade para nenhum parceiro mas sim a multiplicidade e o desenvolvimento das relações com todos aqueles que estiverem interessados em colaborar com Angola", defendeu.

    Dadas as abundantes reservas de recursos naturais de Angola, Dilma Esteves reconhece haver aqui uma "conjugação de interesses".

    "Há aqui uma conjugação de interesses mas não só. Não se resume ao que um pode oferecer ao outro nem a um mero relacionamento baseado no interesse. Defendo que os interesses vão muito mais para além dos recursos naturais, que é o que normalmente toda a gente defende que está na base do relacionamento da cooperação entre a China e Angola", disse.

    "A política externa da China é baseada nos cinco princípios de coexistência pacífica, na qual uma das regras é justamente a da não interferência nos assuntos internos de cada Estado. Para além disso, a principal diferença do discurso chinês para o discurso ocidental é precisamente essa. A China não impõe nenhum condicionalismo político ou tomada de medidas económicas", acrescentou.

    Dilma Esteves considera que tanto Angola como outros Estados africanos "estão bem conscientes dos prós e contras desta cooperação" e, portanto, sabem bem avaliar por si mesmos os benefícios ou não de uma cooperação com a China.

    O desenvolvimento e crescimento da China são um dado adquirido e Dilma Esteves prevê que aquele país possa vir a substituir, por exemplo, os Estados Unidos, como potência global.

    "Pode ultrapassar sem dúvida no futuro mas eu penso que, principalmente, a mensagem que a China quer deixar é efectivamente o seu crescimento pacífico", salientou.

    "Se realmente conseguir ultrapassar (os Estados Unidos) será muito bom, porque - e é uma das coisas que eu também defendo no livro - é que o objectivo da China não é declarar nenhuma guerra, guerra económica neste sentido, mas é óbvio que quer ser capaz de suplantar as outras potências mundiais", adiantou.

    Dilma Esteves defendeu, por outro lado, que o seu livro "não é apenas sobre a China mas também sobre o que os africanos têm a ganhar na cooperação com a China".

    "Porque há sempre uma tendência unilateral de observação destes fenómenos de cooperação China-África. E é precisamente tudo isso que eu tento desmontar no livro", explicou.

    A entrada da China em África, particularmente em Angola, contribui para que se multipliquem as iniciativas de cooperação.

    "Assim como Angola tem uma multiplicidade de opções, ou pelo menos vão-se multiplicando as iniciativas de cooperação ou de investimento e de aquisição de créditos, os países africanos não ficam dependentes do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, porque há outra instituição capaz de as substituir", defendeu.

    "E tudo isso será, numa lógica de concorrência, benéfico para África. Os africanos têm consciência disso", concluiu.

   

    EL.

    Lusa/Fim

17/11/2011

Está em preparação um artigo sobre as tensões sociais entre chineses e angolanos, fruto do interacção social que está em curso.

ENTREVISTA


Dr. António Albuquerque
Actual Representante Comercial de Angola em Portugal
De 1996 a 2006 – Representante Comercial de Angola na China



1. Dada a sua experiência enquanto Representante Comercial de Angola na China que avaliação faz do crescente interesse das empresas chinesas por Angola?


O crescente interesse das empresas chinesas por Angola deve-se ao mercado fértil angolano, ainda sem infra estruturas industriais capazes de satisfazer o mercado interno, por um lado, e porque há uma facilidade de retorno do capital investido para china. Importa salientar que muitos investidores querem aproveitar o momento para se estabelecerem em Angola. Angola tem recursos naturais que interessa as empresas chinesas, e a facilidade de se implementarem dada a nova política de investimento estrangeiro implementado pelo governo angolano.


2. Existem algumas facilidades para a implementação de empresas chinesas em Angola?


Facilidades para investimentos directos existem, mas associar-se as empresas angolanas torna-se mais viável dada a evolução jurídica e o volume de empresas que estão sendo criadas, sobretudo na capital do país. Nas outras províncias a política é mais favorável.



4. O Fórum para a Cooperação China-África é um importante mecanismo multilateral, no entanto grande parte dos acordos são conseguidos a nível bilateral, o que pressupõe a existência de interesses distintos a nível de cada país. Poderia comentar esta afirmação?

É importante primeiro salientar que a China proporcionou uma lista de produtos africanos que podem entrar no mercado chinês com taxas mínimas para estimular o intercâmbio comercial, agora cabe aos países africanos buscar mercado destes produtos. As empresas angolanas são bem-vindas a china. Ao estabelecerem-se aqui facilitará as transacções tanto de mercadorias como bancárias que tem sido um dos grandes problemas nos preços de transportação e embarque e desembarque das mercadorias em ambos os portos. Angola goza da regalia de maior parceiro comercial com a china em Africa. A facilidade jurídica poderá trazer flexibilidade as empresas angolanas interessadas neste mercado asiático.



O fórum de cooperação China-África embora actuar como mecanismo multilateral, maior parte dos acordos são de carácter bilateral dadas as características do mercado e das políticas não homogéneas dos países africanos. A China acha ser difícil implementar uma estratégia de cooperação económica uniforme para países com recursos naturais muito fortes como Angola e países sem recursos naturais como Cabo Verde por exemplo. Por outro lado, tem haver também com a abertura que cada país da China para se celebrar acordos, logo a questão multilateral tem mais a ver com o apoio mútuo na arena internacional, de uma maneira macro, e servir como viaduto para busca de interesses para ambos (China-África), de uma maneira micro.

5. Que avaliação faz da receptividade da China às empresas angolanas? E quais os principais obstáculos à sua implementação na China?



No meu ponto de vista, os obstáculos comerciais entre as empresas chinesas e angolanas reside em primeiro lugar na burocracia tanto quanto pela pouco dinâmica por parte das empresas angolanas, em segundo lugar a carência de informação sobre as empresas angolanas por parte dos chineses, o que implica a criação de uma câmara de comércio conjunta auxiliada pelas representações comerciais. A necessidade de um acordo das alfândegas para criação de estratégias que visam a minimizar os transtornos alfandegários de import&export, e facilidades jurídicas para as empresas angolanas interessadas em penetrarem no mercado chinês.

15/11/2011

Paradoxo Chinês

De acordo com uma notícia publicada recentemente, nos primeiros nove meses deste ano as exportações chinesas para Angola aumentaram 34%. No entanto, isso não significa maior equilíbrio da balança comercial porque Angola continua a registar valores mais elevados devido às exportações de petróleo.
A China mantém uma posição dominante em Angola, é um facto, pelos motivos já expostos em artigos anteriores neste blog, mas assistimos cada vez mais ao enfraquecimento da sua posição plolítico-diplomática pelo avanço de outros países. O interesse chinês despertou também o interesse de potências como os EUA, a Europa, o Brasil e a Índia que, mais empenhados numa cooperação "win-win", se assumem como úteis parceiros. Aqui reside o paradoxo chinês. Efectivamente, é este um dos principais benefícios do relacionamento com o país oriental...

11/11/2011

Para os meus seguidores e amigos bloggers

Regressei após "uns anitos" afastada por motivos de gravidez...gemelar. Como calculam, muito trabalho!
Continuarei as publicações sobre Angola e a China. De 2009 a esta parte há muito para dizer.
Começarei esta semana pois hoje vou desfrutar do feriado nacional de Angola (Dia da Independência Nacional). Vivas pela efeméride!!!

25/02/2009

A complementaridade

A crise financeira internacional e o seu efeito bola de neve resultantes do capitalismo são uma realidade que afectam/afectarão todos os países, porque nenhuma economia é isolada. A grande diferença consiste no grau de afectação económica, que varia de país para país. Quer isto dizer que o factor inevitabilidade predomina nas relações económicas actuais...o que fazer? Propõe-se uma união de esforços para a ultrapassar. Mas nada disto é novidade se tivermos em conta a máxima a união faz a força. Talvez por isso recentemente, o Embaixador da RP China em Angola, Zhang Bolun, afirmou que Angola e a China devem encetar esforços para enfrentar a actual crise juntos, assente nas características das suas economias que se complementam. Da parte chinesa, o know how para os esforços de reconstrução do governo angolano ganham primazia, ao passo que Angola permite colmatar as necessidades energéticas da crescente economia chinesa. Ora bem, nada a apontar devendo apenas acrescentar que a união entre estes dois países não deve excluir a implementação de estímulos financeiros virados para o mercado interno.

06/02/2009

Potências regionais...

Há alguns parâmetros que definem o que significa ser uma potência regional como demonstrar capacidades militares; económicas; demográficas; políticas e ideológicas, entre outros.
A China já se enquadra neste conceito pela extensa população; ter-se tornado a 3.ª maior economia mundial a seguir aos EUA e Japão; possuir uma capacidade militar impressionante de tropas no activo e possuir armas nucleares, aliado à sua capacidade para desenvolver o conceito de soft power, segundo Joseph Nye. Um caminho árduo mas que denotou a capacidade chinesa de, num curto espaço de tempo, se ter conseguido afirmar internacionalmente.
Por sua vez, Angola é classificada como a China de África, pela sua performance, semelhante ao país asiático (e por falar de semelhanças, alguns organismos internacionais estimam que a taxa de crescimento económico de ambos os países para 2009 será de aproximadamente 8/9%). No entanto, discordo desta comparação pois as circunstâncias de take-off económico diferem bastante.
O potencial angolano é sobejamente conhecido mas o que importa destacar é o aumento do potencial para o soft power. O poder da sedução/atracção/influência pacífica fazem com que esteja cada vez mais perto o dia em que Angola se torne na segunda potência regional da África Austral, em conjunto com a África do Sul. Os dividendos de uma relação de complementariedade entre os dois países beneficiariam toda a região.